quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Cefaléias e aneurismas cerebrais

Cefaléias e aneurismas cerebrais
Uma das preocupações comuns de muitos pacientes que têm dores de cabeça é a possibilidade de que sejam portadores de aneurismas cerebrais, às vezes porque já ouviram falar sobre outras pessoas ou mesmo parentes que tiveram este tipo de alteração das artérias. Na maioria dos casos este receio é infundado e pode contribuir para a piora, por exemplo, de uma cefaleia primária (que não está relacionada a outra doença) como a cefaleia tensional ou a enxaqueca, sendo, portanto, importante a caracterização da dor para uma diferenciação correta.

Aneurisma é a dilatação anormal de um vaso sanguíneo, em consequência de uma fragilidade e perda da elasticidade de sua parede. Ele pode ter um formato esférico (aneurisma sacular) ou alongado (aneurisma fusiforme); sua gravidade depende de seu tamanho e localização. A formação de um aneurisma é lenta e progressiva. Os fatores de risco para desenvolver um aneurisma são: idade, alcoolismo, tabagismo, diabetes, hipertensão, colesterol alto e histórico familiar; há maior incidência entre as mulheres e pessoas de raça negra ou oriental. A incidência de aneurismas cerebrais na população geral é de 3,2%. Representam 0,4 a 0,6% da taxa de mortalidade global.


A presença de um aneurisma cerebral que não se rompeu não se correlaciona com nenhum sintoma na maioria dos casos, à exceção dos aneurismas gigantes (de diâmetro superior a 2,5 cm, que são ainda mais raros) que podem dar outros sintomas justamente devido ao seu tamanho (por comprimir outras estruturas do cérebro). Já quando o aneurisma se rompe a dor é aguda, forte, muitas vezes descrita como a pior dor de cabeça e muito diferente das outras que a pessoa já teve; inicia subitamente, é explosiva e rapidamente progressiva. Dita cefaleia “em trovoada”, pode vir acompanhada de desmaio, perda da consciência, enjôo e vômitos, alterações da visão, rigidez do pescoço, perda persistente de força ou sensibilidade em uma metade do corpo. É importante lembrar que esforços físicos diversos (até mesmo atividade sexual, tosse, espirro) podem desencadear dor de cabeça, na presença ou não de um aneurisma, e que a enxaqueca comum costuma piorar com o esforço, mas os sintomas que podem antecedê-la (“aura”) ou a acompanham são temporários e a intensidade é menor. Aneurismas cerebrais rotos podem deixar sequelas que comprometem a qualidade de vida como distúrbios da fala e fraqueza muscular, mas também podem levar ao coma ou óbito. 10% dos pacientes com aneurisma morre antes de chegar ao hospital.

Para avaliar a presença de um aneurisma o médico pode utilizar os exames do líquor (o líquido que banha o cérebro e a medula espinhal) e vários tipos de exames de imagem cerebral. 20 a 30% de pacientes com aneurismas têm aneurismas múltiplos.

O tratamento do aneurisma cerebral não-roto pode ser feito através de neurocirurgia (“clipagem”) ou por cateterismo (“embolização”). Nos casos de hemorragia cerebral pode ser feita uma neurocirurgia para descompressão do hematoma, monitoramento em UTI e posterior reabilitação. Pacientes com aneurismas tratados devem continuar o acompanhamento médico pelo risco de recorrência, podendo ser submetidos a novos exames de imagem ao longo da vida.

Dr. Aloisio Ponti Lopes – Neurologista – CRM-PR 13.337

terça-feira, 4 de junho de 2019

Sobre o direito de dirigir veículos automotores


Isso mesmo, é um direito, mas quem dá essa permissão é um órgão, o DETRAN. E aí, como ficam os pacientes neurológicos, ou aqueles que por algum motivo são barrados (por exemplo, pela psicóloga, reprovados no exame psicotécnico) ?

Cabe ao neurologista avaliar quem tem condições neurológicas para dirigir um veículo. Estamos falando da segurança do próprio condutor, de sua família e/ou amigos que estejam com ele no veículo e também das outras pessoas, pedestres e motoristas dos outros veículos. Afinal, BASTAM ALGUNS SEGUNDOS de desatenção ou perda da consciência para ter um acidente de trânsito.

Alguns pacientes não entendem esta responsabilidade e em casos mais severos até mentem para a autoridade do DETRAN, o que pode ter graves consequências jurídicas em caso de morte ou lesões corporais provenientes de um acidente (já que os danos materiais são secundários).

Assim, alguns pacientes com parkinsonismo, epilepsia, distúrbios motores, visuais, lentidão psico-motora, déficit de memória ou demência, mesmo que em fases iniciais, não têm capacidade de dirigir sem colocar a sua própria vida e a de outros em risco. Pense nisso. Se você conhece alguém ou algum parente nesta situação, procure o DETRAN e lá poderá ser orientado onde fazer os exames pertinentes e como proceder em cada caso.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O que é microangiopatia ?

A microangiopatia cerebral, também conhecida como doença de pequenos vasos, é um achado comum em exames de imagem como tomografia e ressonância magnética. Podemos dizer que neste caso a circulação de sangue no cérebro está comprometida, diminuída em algumas regiões.
 

As principais causas são a IDADE , hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade.
 

Com a progressão da microangiopatia (sobretudo pelo envelhecimento) podem ocorrer alterações de memória e/ou comportamento, dificuldade para andar e vertigem ou tonturas. Ela predispõe o paciente a ter ataques isquêmicos transitórios ou até mesmo pequenos infartos cerebrais (chamados também de AVCs lacunares).

 Para   evitar a progressão da microangiopatia você deve controlar os seus fatores de risco cardiovasculares (colesterol, diabetes, hipertensão, obesidade, inatividade física, stress ; não fumar e abster-se do consumo de álcool). Os fatores de risco que fogem ao seu controle são a genética e, obviamente, a idade. 

Faça check-ups anuais pelo menos, com um clínico ou cardiologista. Não há necessidade de repetir as imagens todo ano, a não ser que seja à critério do neurologista.

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Bibliografia

Okroglic S, Widmann CN, Urbach H, Scheltens P, Heneka MT (2013) Clinical Symptoms and Risk Factors in Cerebral Microangiopathy Patients. PLoS ONE 8(2): e53455. doi:10.1371/journal.pone.0053455

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Toxina botulínica e Enxaqueca Crônica

A aplicação de botox para o tratamento de dores de cabeça surte efeitos somente em pacientes com enxaqueca crônica. A substância parece não ser relevante no alívio dos sintomas de dores de cabeça menos frequentes ou de cefaleia tensional – o tipo mais comum do problema entre adultos. Essas conclusões foram obtidas após pesquisadores da Faculdade de Medicina de Wisconsin, nos Estados Unidos, analisarem 27 trabalhos sobre o assunto. O estudo completo foi publicado nesta quarta-feira na revista Journal of the American Medical Association (JAMA).

CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Botulinum Toxin A for Prophylactic Treatment of Migraine and Tension Headaches in Adults
Onde foi divulgada: revista Journal of the American Medical Association (JAMA)
Quem fez: Jeffrey L. Jackson, Akira Kuriyama e Yasuaki Hayashino
Instituição: Faculdade de Medicina de Wisconsin, Estados Unidos
Dados de amostragem: 27 estudos que envolveram, ao todo, 5.313 pessoas
Resultado: Tratamento com toxina botulínica para cefaleia surte efeitos de leves a moderados em casos de enxaqueca crônica, mas não em dores de cabeça e enxaquecas menos frequentes ou em cefaleia tensional
Segundo os autores do estudo, as cefaleias tensionais são caracterizadas pela tensão muscular na região do pescoço, nuca e cabeça. Cerca de 40% das pessoas, de acordo com os pesquisadores, experimentam o problema em algum momento da vida adulta, e a maioria não procura por ajuda médica.
A pesquisa se baseou em 27 estudos sobre os efeitos do botox no tratamento de enxaqueca que, no total, envolveram 5.313 participantes. Os autores do trabalho classificaram as dores de cabeça nas categorias: enxaqueca crônica (mais do que 15 crises por mês) ou episódica (menos do que 15 crises por mês); dores de cabeça crônicas ou episódicas e cefaleia tensional.
Resultados – Os pesquisadores observaram que o tratamento com botox reduziu moderadamente a frequência de dores por mês em pacientes com dores de cabeça e enxaqueca crônicas. De maneira geral, as pessoas que tinham algum desses dois problemas relataram ter, em média, de 17 a 20 crises ao mês antes de receberem tratamento com a toxina botulínica. Após 12 semanas do início do procedimento, elas passaram a ter duas crises a menos todos os meses.

Brasil – Em junho de 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da toxina botulínica para o tratamento de enxaqueca crônica em adultos. O órgão considera pessoas com a doença aquelas que apresentam dores de cabeça mais do que 15 dias por mês e crises com duração média de quatro horas cada.
A aplicação da toxina botulínica para migrânea crônica é feita atualmente seguindo o protocolo PREEMPT – 31 pontos de solução diluída em vários locais na cabeça e pescoço, bilateralmente, sendo repetidas as aplicações a cada 3 meses, por 5 vezes (total do tratamento, portanto, em 15 meses).

Vale ressaltar que protocolos de aplicações com menos pontos e menos repetições não foram considerados eficazes.

A toxina botulínica é em geral bem tolerada, com efeitos adversos leves e geralmente apenas nos locais de aplicação, de curta duração (basicamente, nas primeiras 24 horas). Estima-se que apenas 10% dos pacientes não respondam ao tratamento, principalmente pelo desenvolvimento de anticorpos contra a toxina.