segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Uma conversa franca sobre... "Demências"

Leia:

1)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Angiopatia

2)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Demência_vascular

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Maneiras de prevenir 2):

- Dieta: Dieta do Mediterrâneo
- Exercícios físicos: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20065133
- Ômega-3 - as evidências atuais suportam o uso de ômega-3 como um dos poucos suplementos que realmente ajudam. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18573585
Vários outros já foram testados e falharam OU os estudos não foram suficientemente convincentes, por diversas razões, entre as muitas vale lembrar as próprias dificuldades em se realizarem os estudos.

Estudos com grande aceitação científica precisam de um número grande de pacientes e controle "duplo cego com placebo", que é um método de pesquisa
 para testar as drogas. Infelizmente estes estudos são escassos. Algumas drogas que talvez sejam eficazes têm poucos estudos, como por exemplo a Nimodipina e o Gingko biloba (extrato puro, não esta porcaria que se vende por aí...), já está desacreditado em alguns estudos (veja este).

- Antiagregantes plaquetários (AAS, Clopidogrel, etc...) ainda são utilizados, embora os estudos sejam ruins, porém previnem outros tipos de infartos (como o do miocárdio, por exemplo, outro risco). Estatinas? Humm... bem, pelo menos elas mantêm baixo o seu colesterol! Muitos estudos ainda vão rolar sobre este assunto. Cito um de 2007, embora populacional: Use of statins and incidence of dementia and cognitive impairment without dementia in a cohort study

- Embora as evidências não sejam numerosas, sou adepto do Licopeno (do tomate) e do Resveratrol (da uva). Veja este link para uma revisão muito crítica!

- Mantenha sua mente ativa. _MUITO_ ativa. É o que se chama de "reserva cognitiva". Pacientes com muita "reserva" têm prognóstico melhor, enquanto os pacientes analfabetos têm, com certeza, um risco muito maior de desenvolver demência.
Isto não quer dizer que demência vascular não possa atingir cientistas ou pessoas muito inteligentes.

- Demência de Alzheimer (D.A.) é outra doença e é determinada geneticamente (bem, as coisas não são assim "tão" simples, mas para os mais curiosos eu sugiro uma leitura do link...). Em poucos anos os testes de marcadores biológicos serão rotina para diagnosticar D.A..
A marca da D.A. é o déficit progressivo de memória e atrofia cerebral na imagem. Na atual conjuntura pacientes com D.A. não tratada têm sobrevida de poucos anos. Tratados, podem sobreviver muitos anos, embora a qualidade de vida não seja boa. As pesquisas na D. A. estão avançadíssimas e abrangem várias propostas terapêuticas diferentes. Veja por exemplo esta pesquisa com uma "vacina".

- Demência com Corpos de Lewy (D.C.L.) é outra doença e tem outra clínica, e outra imagem na RNM.  É a segunda mais freqüente. Costuma cursar com alucinações, distúrbio do comportamento e parkinsonismo já no início.
É a mais agressiva de todas e a mais difícil de tratar (embora a população ache que a D.A. seja pior, o que é um conceito errado). 

- Demência vascular (D.V.) é a terceira mais freqüente. A imagem da D. V. é a leucoaraiose / microangiopatia difusa, mais proeminente em regiões profundas do cérebro, áreas periventriculares, núcleo semi-oval / núcleos da base.
A demência vascular pode causar parkinsonismo secundário às lesões nos núcleos da base, pois estes núcleos controlam os movimentos finos. Parkinsonismo secundário tem tratamento parecido com o da D. P. (doença de Parkinson), porém são doenças distintas. Tratados, os pacientes com D.V. vivem muitos anos, embora o risco de AVC e os eventuais AVCs que venham porventura sofrer possam piorar muito a qualidade de vida. O fator que desencadeia a D.V. é a aterosclerose difusa dos vasos cerebrais (atero = deposição de gordura; sclerose = enrijecimento dos vasos). A demência vascular pode ser, de modo simplificado, sub-classificada em 3 tipos: demência multi-infarto, demência por infarto isquêmico estratégico e doença de pequenos vasos com demência. A demência subcortical comprende a doença de pequenas artérias (40 a 60%) e uma forma mais grave, a Doença de Binswanger (3 a 12%).

- Todos a partir dos 20 anos de idade temos algum grau de aterosclerose. Uns mais, outros menos. A aterosclerose ataca leitos vasculares distintos em graus distintos. Assim, uma pessoa pode ter 75% de obstrução numa coronária, e 20% na artéria cerebral anterior, 60% na artéria renal, 30% na oftálmica, 27% nas pernas, 30% nas artérias dos intestinos, e assim por diante. De todos os infartos, o intestinal maciço é o pior - sempre letal.

- Demência mista = D.A. + D. V. . É muito prevalente no nosso meio. Tratados, os pacientes com D.M. vivem muitos, muitos anos (mesmas restrições se aplicam caso venham a sofrer algum AVC).

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O controle dos fatores de risco é fundamental.

- Stress
- Tabagismo ( não adianta mudar para cigarro eletrônico! )
- Etilismo  ( veja este link sobre a Síndrome de Wernicke-Korsakoff )
- Sedentarismo
- Obesidade
- Diabetes
- Hipertensão
- Dislipidemias (colesterol alto)

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Enfatizo:

- Não existe hipertensão "meio" controlada - ou está controlada, ou não está.
- Se você tem Diabetes, o controle é importantíssimo. A hipoglicemia também deve ser evitada! Consulte um colega endocrinologista! Compre um glicosímetro e utilise-o!
- Paciente hipertenso que não costuma medir sua P.A. é geralmente um paciente com hipertensão mal controlada. Não ter um aparelho para medir pressão é um mal sinal - sinal de que você não está preocupado com sua saúde!
- Picos hipertensivos são tão perigosos como P.A. constantemente alta.
- Stress é um fator reconhecido como acelerador de aterosclerose (atero = gordura, deposição nos vasos em forma de placas; sclerose = enrijecimento da parede dos vasos).
- O consumo adequado de vinho tinto protege contra D.A. e infarto do miocárdio. O problema está na palavra "adequado", entendeu?
- Distúrbios do sono podem agravar doenças cardiovasculares. O caso típico é a Síndrome de Apnéia/ Hipopnéia do Sono.  A síndrome de movimentos periódicos (P.L.M.S.) não se inclui aqui.

- Metas para colesterol e triglicerídeos:
Colesterol Total < 200 mg/dl;
HDL > 60;
LDL < 100; quanto mais próximo de 80, melhor (isto só se consegue com medicamentos)
VLDL em níveis normais ou baixos
Triglicerídeos < 200.

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Quero lembrar também que o tema é muito vasto e citei apenas as 3 etiologias mais comuns de demência. Existem muitas outras! Para citar algumas:
- Doença de Pick
- As degenerações lobares fronto-temporais (DFT, etc.)
- Doença de Huntington
- A demência do pugilista
- Hidrocefalia de pressão normal ou síndrome de Hakim-Adams
- A demência associada à Doença de Parkinson (fase mais tardia da D.P.)
- A demência associada ao etilismo / Doença de Wernicke-Korsakoff
- Demências ditas "tratáveis" (anemias, hipotireoidismo, quadros demenciais associados outras condições ou doenças psiquiátricas como uma depressão grave, por exemplo, que pode estar associada a sintomas psicóticos / alucinações / confusão mental)
- Sífilis, AIDS, Doença de Creutzfeldt-Jakob e outras doenças infecto-contagiosas, etc.
Veja esta "pequena lista simplificada", por exemplo!


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Exames:

- Avaliação cognitiva completa, com um neuropsicólogo experiente.
- Doppler carótidas + vertebrais: anual.
- Doppler transcraniano : pelo menos 1 vez.
- Imagens como TAC ou RNM, a critério do neurologista.
- SPECT e PET não têm indicação formal hoje, só em ambiente de pesquisa universitária;
- Dosagem de proteína tau, tau-fosforilada e beta-amilóide no Líquor (marcador para Alzheimer), só em ambiente de pesquisa; veja: http://www.neurociencias.org.br/pt/486/biomarcadores-na-doenca-de-alzheimer/
- Rotinas laboratoriais, semestral, ou a critério do neurologista;
- EEG à critério, embora pouco útil, à exceção de síncopes, crises convulsivas, e estado confusional agudo;
- Bateria completa com o cardiologista (Holter, Ecocardiograma, teste ergométrico e outros à critério).

Artigos interessantes:
1) Latest advances on interventions that may prevent, delay or ameliorate dementia
2) cet article est indiquée à mes patients qui parlent français