quarta-feira, 21 de março de 2018

Interações medicamentosas

O que é interação medicamentosa?
É um evento clínico que pode ocorrer entre medicamento-medicamento, medicamento-alimento ou medicamento-drogas (álcool, cigarro e drogas ilícitas). Caracteriza-se pela interferência de um medicamento, alimento, ou droga na absorção, ação ou eliminação de outro medicamento. Por isso quando você receber uma nova receita deve informar ao profissional de saúde se já está utilizando algum outro medicamento, pois um pode interferir nos efeitos do outro, tanto aumentando quanto diminuindo-os.
Os antiácidos são exemplos de medicamentos que interagem com diversos outros, podendo alterar as taxas de dissolução e absorção de medicamentos como os hormônios tireoidianos, antifúngicos imidazóis, antibióticos como a tetraciclina e os anti-inflamatórios como a aspirina, diclofenaco e ibuprofeno.
Anticoagulantes, como a varfarina, podem apresentar um risco maior de causar hemorragia se utilizados com alguns anti-inflamatórios. Vale ressaltar, que no caso da varfarina é indispensável o acompanhamento de um profissional de saúde para avaliar e monitorar o risco do uso combinado a outros medicamentos; vários alimentos também interferem com estes anticoagulantes, principalmente aqueles ricos em vitamina K.
Com o lançamento de novos medicamentos e a prática clínica da polifarmácia amplia-se a capacidade dos profissionais de saúde em atender as demandas dos pacientes, porém aumenta-se o uso combinado de fármacos, resultando em eventos adversos de grande importância para o desfecho clínico.

Inibidores da bomba de prótons e benzodiazepínicos
Utilizados no tratamento da úlcera péptica e refluxo gastroesofágico, os inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol, são um dos fármacos mais utilizados na automedicação e em uso contínuo. Esses, por inibirem as enzimas metabólicas CYP3A4, responsáveis pelo metabolismo hepático dos benzodiazepínicos, como o diazepam, podem promover o aumento de seus níveis plasmáticos e causar ataxia e fraqueza muscular por deprimir diferentes regiões encefálicas do SNC. Por levar a uma interação prejudicial, uma opção seria o uso de Lorazepam, pois não apresenta metabolismo hepático oxidativo.
Síndrome serotoninérgica
Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são amplamente prescritos. O uso de drogas serotoninérgicas causam uma super ativação dos receptores 5HT-1A periférico e pós-sináptico (síndrome serotoninérgica), gerando alterações do estado mental, hiperatividade neuromuscular e hiperatividade autonômica.
Uma causa da síndrome da serotonina é uma interação entre duas drogas serotoninérgicas com mecanismos de ação diferentes, como um ISRS ou um inibidor da recaptação da serotonina/norepinefrina (IRSN) coadministrado com tramadol, trazodona... Quanto maior a dose de ISRS, maior a probabilidade de efeitos adversos.
Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) e clorpromazina
Os IECA regulam o balanço entre as propriedades vasodilatadoras e natriuréticas da bradicinina e as propriedades vasoconstritoras e de retenção de sal da Angiotensina II pela redução da formação de Angiotensina II e da degradação de bradicinina. A Clorpromazina é uma substância antipsicótica clássica e inibidora da CYP2D6. Essa inibição pode causar a exacerbação do efeito do Captopril, um IECA, e o paciente pode apresentar hipotensão severa e síncope.
Penicilinas + Probenecida
A Amoxicilina é uma penicilina da classe dos antibacterianos beta-lactâmicos e a Probenecida é um agente uricosúrico que age diminuindo a reabsorção de ácido úrico, aumentando assim a sua excreção. A Probenecida, por inibição competitiva, interfere na secreção tubular renal das penicilinas, aumentando a concentração plasmática das mesmas. Dessa forma, tem-se uma interação benéfica através de um efeito antibacteriano acentuado das penicilinas.
Os antibacterianos estão entre os medicamentos mais utilizados na obtenção de interações vantajosas que se tornam promissoras para tratamentos futuros, com o impedimento ou retardo do aparecimento de resistência bacteriana.
Interações com Cetoconazol
Os antifúngicos azóis apresentam interações com diversas substâncias e, por isso, é importante que o médico esteja atento na hora de receitar, procurando sempre saber quais medicamentos o paciente já está utilizando.
O cetoconazol, por exemplo, é melhor absorvido pelo estômago em meio ácido, devendo, portanto, ser evitadas associações com drogas que diminuem a secreção gástrica, tais como: antiácidos, anticolinérgicos e bloqueadores dos receptores H2. Em associação com Rifampicina,Cetoconazol tem os seus níveis sanguíneos reduzidos, sendo, portanto, desaconselhável.
Caso o Cetoconazol seja administrado concomitantemente com ciclosporina A, os níveis sanguíneos da última devem ser rigorosamente acompanhados, pois Cetoconazol provoca um aumento dos mesmos. Em tratamento simultâneo de Cetoconazol com anticoagulantes do tipo cumarina, o efeito anticoagulante pode ser aumentado, devendo assim ser monitorado. O uso simultâneo de Cetoconazol com difenilhidantoína pode alterar o metabolismo de uma ou ambas as drogas, sendo recomendado um acompanhamento.
Os fitoterápicos
Ginkgo biloba é uma substância estimulante para o cérebro que facilita o fluxo sanguíneo arterial, cerebral e periférico, melhorando a oxigenação das células. É indicada para o tratamento da perda de memória, estágios iniciais de demência, tonturas, tinnitus (chiado no ouvido), hipoacusia (diminuição da audição).
O uso de Ginkgo poderá aumentar o risco de sangramentos ao potencializar a ação do ácido acetilsalicílico e do clopidogrel, de anticoagulantes como varfarina e heparina, além de anti-inflamatórios não esteroidais como ibuprofeno ou naproxeno. A administração do Ginkgo poderá diminuir a ação de anticonvulsivantes (fenitoína) e, em presença de antidepressivos (inibidores da monoamino oxidase), intensifica a ação farmacológica destas drogas e, também, dos efeitos colaterais como cefaleia, tremores e surtos maníacos.
Quando usado com sertralina poderá desencadear aumento nos batimentos cardíacos, hipertermia, sudorese intensificada, rigidez muscular e agitação. Doses elevadas de Ginkgo poderão elevar a pressão sanguínea quando administrado com alimentos que tenham tiramina.
Outro fitoterápico de uso comum e que tem muitas interações medicamentosas é o Hypericum perforatum, conhecido popularmente como “erva de São João”. Ele é capaz de inativar a ação de muitos medicamentos !
O grapefruit e os substratos das enzimas CYP3A
A grapefruit é uma fruta muito utilizada para fazer sucos e outras bebidas não alcoólicas nos Estados Unidos. No Brasil, é conhecida como toranja ou pomelo. Estudos comprovaram que substâncias presentes na fruta foram identificadas como inibidoras das enzimas do citocromo P450 CYP3A causando diminuição significativa no metabolismo dos substratos das enzimas CYP3A. Os medicamentos administrados por via oral que são substratos para CYP3A, como os antimaláricos, bloqueadores do canal de cálcio, as estatinas e a carbamazepina, são susceptíveis a interação com suco de toranja.
O médico deve orientar os pacientes a evitarem o suco de toranja, presente em bebidas como Schweppes Citrus® e Fanta Citrus®, quando utilizarem algum dos medicamentos acima.
Remédios para baixar o colesterol
A sinvastatina é um dos medicamentos mais utilizados no Brasil atualmente como hipolipemiante. Metabolizada pelo citocromo CYP3A4, ela tem interação com outras diversas drogas, podendo diminuir significativamente os níveis destas no sangue.

Álcool

Bebidas alcoólicas podem interagir com diversos medicamentos inativando ou potencializando seus efeitos. O álcool é particularmente prejudicial quando interage com drogas psicotrópicas (que atuam no sistema nervoso) como calmantes/ ansiolíticos, antidepressivos, anticonvulsivantes e analgésicos.

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