sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Dores de cabeça e analgésicos

    Os dois tipos mais comuns de dores de cabeça (cefaléia) são: 1) a cefaléia tensional e 2) a enxaqueca.

    Dados de estudos populacionais estimam que cerca de 93% da população já teve em algum momento uma dor de cabeça. 30% necessitam, de fato, algum tipo de tratamento constante. 63% têm dor esporádica, a chamada cefaléia tensional episódica, ou o que as pessoas costumam chamar de dor de cabeça "comum", embora ela possa se tornar de intensidade moderada, envolver a cabeça inteira e durar até vários dias. Esse tipo de dor costuma passar com analgésicos comuns, fracos. 

    Um erro comum do indivíduo com dor de cabeça tensional que se torna mais frequente é aumentar o consumo de analgésicos por conta própria sem procurar consultar um médico. Isto também é muito comum acontecer com os pacientes que têm enxaquecas. Alguns pacientes até mesmo têm estes dois tipos de dor. O aumento do consumo de analgésicos costuma perpetuar o ciclo de dor, tornando as dores cada vez mais frequentes e mais resilientes ao tratamento, e causando tolerância medicamentosa (necessitando aumentar a dose ou a potência do analgésico para alcançar o mesmo efeito que se alcançava antes). Então, não raramente o neurologista recebe o paciente que já toma analgésicos diariamente ou numa quantidade e/ou potência bem elevada, e que continua tendo dores de cabeça, às vezes também diária. 

    A venda de analgésicos "comuns" (mas que de longe não são banais) no Brasil é livre e há muito tempo se tornou um problema, assim como a troca de receituário médico em balcão de farmácia, ou mesmo prescrição / consultas em balcão. Analgésicos tidos como "inocentes" são proibidos em outros países (ex.: dipirona) e de uso corrente e abusivo entre sofredores de dores de cabeça. O paracetamol, um péssimo antitérmico - causa frequente de intoxicação grave em crianças nos EUA - pode ser comprado sem receita e em qualquer quantidade , mas a maioria das pessoas não sabe a dose máxima que pode tomar. Outros analgésicos perigosos são os que contêm ergotamina ou diidroergotamina, antigas substâncias usadas para enxaqueca, mas de absorção inespecífica e com inúmeros efeitos coleterais possíveis - no entanto, também podem ser comprados sem receita médica, são prescritos pelos balconistas e usados abusivamente e geralmente em doses diárias e/ou semanais acima das doses máximas consideradas seguras, ou mesmo por pessoas que nem mesmo deveriam engolir 1 comprimido sequer dessa substância. 

    Assim como fez com os antibióticos, o governo faria um grande serviço à saúde da população se determinasse que a venda de analgésicos fosse restrita à apresentação de receituário médico. Isso restringiria, por sua vez, o número de pacientes com cefaléia por abuso de analgésicos, que representa um grande contingente dos pacientes que recebemos nos consultórios especializados.

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