Dentre os medicamentos usados para o tratamento preventivo da enxaqueca , muitos são utilizados também para tratar outras doenças. Essa conduta é utilizada no mundo inteiro, há décadas, por todos os neurologistas.
Isto causa muita confusão entre os pacientes.
Na verdade, quando o neurologista (ou o psiquiatra) prescreve um psicotrópico ele primordialmente não está pensando apenas na indicação do medicamento , mas também no seu mecanismo de ação - em qual lugar no cérebro aquele medicamento age, ou qual neurotransmissor ele influencia.
Neurotransmissores são as substâncias químicas que fazem, digamos, a eletricidade "fluir" nas redes neuronais. Usando os medicamentos podemos aumentar ou diminuir a quantidade de certos neurotransmissores específicos e assim influenciar a atividade cerebral. Certos neurotransmissores que estão envolvidos no mecanismo que culmina com a crise de enxaqueca também estão envolvidos na epilepsia e na depressão. Assim sendo, um mesmo medicamento pode ser usado para as três doenças.
Alguns medicamentos para enxaqueca também são usados para controle de pressão alta e arritmia cardíaca ; outros, para vertigens ou tonturas ; como anti-inflamatórios; para estética , etc...
Alguns medicamentos mais recentes são utilizados apenas para enxaqueca, porém ainda têm um custo mais alto.
Existem , é claro, tratamentos não medicamentosos, baseados em outras técnicas , para a prevenção das crises.
Dr. Aloisio Ponti Lopes
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
Antidepressivo para enxaqueca ? Como assim ? Não tenho depressão !
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022
Dores de cabeça e analgésicos
Os dois tipos mais comuns de dores de cabeça (cefaléia) são: 1) a cefaléia tensional e 2) a enxaqueca.
Dados de estudos populacionais estimam que cerca de 93% da população já teve em algum momento uma dor de cabeça. 30% necessitam, de fato, algum tipo de tratamento constante. 63% têm dor esporádica, a chamada cefaléia tensional episódica, ou o que as pessoas costumam chamar de dor de cabeça "comum", embora ela possa se tornar de intensidade moderada, envolver a cabeça inteira e durar até vários dias. Esse tipo de dor costuma passar com analgésicos comuns, fracos.
Um erro comum do indivíduo com dor de cabeça tensional que se torna mais frequente é aumentar o consumo de analgésicos por conta própria sem procurar consultar um médico. Isto também é muito comum acontecer com os pacientes que têm enxaquecas. Alguns pacientes até mesmo têm estes dois tipos de dor. O aumento do consumo de analgésicos costuma perpetuar o ciclo de dor, tornando as dores cada vez mais frequentes e mais resilientes ao tratamento, e causando tolerância medicamentosa (necessitando aumentar a dose ou a potência do analgésico para alcançar o mesmo efeito que se alcançava antes). Então, não raramente o neurologista recebe o paciente que já toma analgésicos diariamente ou numa quantidade e/ou potência bem elevada, e que continua tendo dores de cabeça, às vezes também diária.
A venda de analgésicos "comuns" (mas que de longe não são banais) no Brasil é livre e há muito tempo se tornou um problema, assim como a troca de receituário médico em balcão de farmácia, ou mesmo prescrição / consultas em balcão. Analgésicos tidos como "inocentes" são proibidos em outros países (ex.: dipirona) e de uso corrente e abusivo entre sofredores de dores de cabeça. O paracetamol, um péssimo antitérmico - causa frequente de intoxicação grave em crianças nos EUA - pode ser comprado sem receita e em qualquer quantidade , mas a maioria das pessoas não sabe a dose máxima que pode tomar. Outros analgésicos perigosos são os que contêm ergotamina ou diidroergotamina, antigas substâncias usadas para enxaqueca, mas de absorção inespecífica e com inúmeros efeitos coleterais possíveis - no entanto, também podem ser comprados sem receita médica, são prescritos pelos balconistas e usados abusivamente e geralmente em doses diárias e/ou semanais acima das doses máximas consideradas seguras, ou mesmo por pessoas que nem mesmo deveriam engolir 1 comprimido sequer dessa substância.
Assim como fez com os antibióticos, o governo faria um grande serviço à saúde da população se determinasse que a venda de analgésicos fosse restrita à apresentação de receituário médico. Isso restringiria, por sua vez, o número de pacientes com cefaléia por abuso de analgésicos, que representa um grande contingente dos pacientes que recebemos nos consultórios especializados.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
Hemicrania paroxística, o que é ?
sábado, 10 de outubro de 2020
Cefaléias por esforço
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
Cefaléias e aneurismas cerebrais
Uma das preocupações comuns de muitos pacientes que têm dores de cabeça é a possibilidade de que sejam portadores de aneurismas cerebrais, às vezes porque já ouviram falar sobre outras pessoas ou mesmo parentes que tiveram este tipo de alteração das artérias. Na maioria dos casos este receio é infundado e pode contribuir para a piora, por exemplo, de uma cefaleia primária (que não está relacionada a outra doença) como a cefaleia tensional ou a enxaqueca, sendo, portanto, importante a caracterização da dor para uma diferenciação correta.
Aneurisma é a dilatação anormal de um vaso sanguíneo, em consequência de uma fragilidade e perda da elasticidade de sua parede. Ele pode ter um formato esférico (aneurisma sacular) ou alongado (aneurisma fusiforme); sua gravidade depende de seu tamanho e localização. A formação de um aneurisma é lenta e progressiva. Os fatores de risco para desenvolver um aneurisma são: idade, alcoolismo, tabagismo, diabetes, hipertensão, colesterol alto e histórico familiar; há maior incidência entre as mulheres e pessoas de raça negra ou oriental. A incidência de aneurismas cerebrais na população geral é de 3,2%. Representam 0,4 a 0,6% da taxa de mortalidade global.
A presença de um aneurisma cerebral que não se rompeu não se correlaciona com nenhum sintoma na maioria dos casos, à exceção dos aneurismas gigantes (de diâmetro superior a 2,5 cm, que são ainda mais raros) que podem dar outros sintomas justamente devido ao seu tamanho (por comprimir outras estruturas do cérebro). Já quando o aneurisma se rompe a dor é aguda, forte, muitas vezes descrita como a pior dor de cabeça e muito diferente das outras que a pessoa já teve; inicia subitamente, é explosiva e rapidamente progressiva. Dita cefaleia “em trovoada”, pode vir acompanhada de desmaio, perda da consciência, enjôo e vômitos, alterações da visão, rigidez do pescoço, perda persistente de força ou sensibilidade em uma metade do corpo. É importante lembrar que esforços físicos diversos (até mesmo atividade sexual, tosse, espirro) podem desencadear dor de cabeça, na presença ou não de um aneurisma, e que a enxaqueca comum costuma piorar com o esforço, mas os sintomas que podem antecedê-la (“aura”) ou a acompanham são temporários e a intensidade é menor. Aneurismas cerebrais rotos podem deixar sequelas que comprometem a qualidade de vida como distúrbios da fala e fraqueza muscular, mas também podem levar ao coma ou óbito. 10% dos pacientes com aneurisma morre antes de chegar ao hospital.
Para avaliar a presença de um aneurisma o médico pode utilizar os exames do líquor (o líquido que banha o cérebro e a medula espinhal) e vários tipos de exames de imagem cerebral. 20 a 30% de pacientes com aneurismas têm aneurismas múltiplos.
O tratamento do aneurisma cerebral não-roto pode ser feito através de neurocirurgia (“clipagem”) ou por cateterismo (“embolização”). Nos casos de hemorragia cerebral pode ser feita uma neurocirurgia para descompressão do hematoma, monitoramento em UTI e posterior reabilitação. Pacientes com aneurismas tratados devem continuar o acompanhamento médico pelo risco de recorrência, podendo ser submetidos a novos exames de imagem ao longo da vida.
Dr. Aloisio Ponti Lopes – Neurologista – CRM-PR 13.337
terça-feira, 4 de junho de 2019
Sobre o direito de dirigir veículos automotores
Isso mesmo, é um direito, mas quem dá essa permissão é um órgão, o DETRAN. E aí, como ficam os pacientes neurológicos, ou aqueles que por algum motivo são barrados (por exemplo, pela psicóloga, reprovados no exame psicotécnico) ?
Cabe ao neurologista avaliar quem tem condições neurológicas para dirigir um veículo. Estamos falando da segurança do próprio condutor, de sua família e/ou amigos que estejam com ele no veículo e também das outras pessoas, pedestres e motoristas dos outros veículos. Afinal, BASTAM ALGUNS SEGUNDOS de desatenção ou perda da consciência para ter um acidente de trânsito.
Alguns pacientes não entendem esta responsabilidade e em casos mais severos até mentem para a autoridade do DETRAN, o que pode ter graves consequências jurídicas em caso de morte ou lesões corporais provenientes de um acidente (já que os danos materiais são secundários).
Assim, alguns pacientes com parkinsonismo, epilepsia, distúrbios motores, visuais, lentidão psico-motora, déficit de memória ou demência, mesmo que em fases iniciais, não têm capacidade de dirigir sem colocar a sua própria vida e a de outros em risco. Pense nisso. Se você conhece alguém ou algum parente nesta situação, procure o DETRAN e lá poderá ser orientado onde fazer os exames pertinentes e como proceder em cada caso.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
O que é microangiopatia ?
A microangiopatia cerebral, também conhecida como doença de pequenos vasos, é um achado comum em exames de imagem como tomografia e ressonância magnética. Podemos dizer que neste caso a circulação de sangue no cérebro está comprometida, diminuída em algumas regiões.
As principais causas são a IDADE , hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade.
Com a progressão da microangiopatia (sobretudo pelo envelhecimento) podem ocorrer alterações de memória e/ou comportamento, dificuldade para andar e vertigem ou tonturas. Ela predispõe o paciente a ter ataques isquêmicos transitórios ou até mesmo pequenos infartos cerebrais (chamados também de AVCs lacunares).
Para evitar a progressão da microangiopatia você deve controlar os seus fatores de risco cardiovasculares (colesterol, diabetes, hipertensão, obesidade, inatividade física, stress ; não fumar e abster-se do consumo de álcool). Os fatores de risco que fogem ao seu controle são a genética e, obviamente, a idade.
Faça check-ups anuais pelo menos, com um clínico ou cardiologista. Não há necessidade de repetir as imagens todo ano, a não ser que seja à critério do neurologista.
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Bibliografia
Okroglic S, Widmann CN, Urbach H, Scheltens P, Heneka MT (2013) Clinical Symptoms and Risk Factors in Cerebral Microangiopathy Patients. PLoS ONE 8(2): e53455. doi:10.1371/journal.pone.0053455